Se tem uma coisa que aprendi desde que me tornei mãe da Bianca, é que a maternidade parece ser um convite aberto para palpites de todo tipo. Quem nunca ouviu aquele famoso “Ah, no meu tempo…” ou “Você deveria fazer assim…”? Esses conselhos, muitas vezes não solicitados, chegam de todos os lados: da família, de amigos, de vizinhos e até de completos desconhecidos.
Vivendo os desafios dos primeiros palpites
Lembro de várias situações marcantes nos primeiros meses da Bianca. Uma vez, em um mercado, enquanto ela chorava, uma senhora me disse que o problema era “falta de cobertor”. Em outro momento, ouvi de conhecidos que ela deveria estar engatinhando ou andando já naquela idade, o que só gerou mais insegurança.
E não parava por aí: questionaram nossa decisão de seguir a cartilha da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que recomenda não adicionar sal aos alimentos do bebê até um ano de idade e evitar açúcar até dois anos. Frases como “Um pouquinho não faz mal” eram recorrentes e, muitas vezes, desgastantes.
Esses episódios me ensinaram que, embora os palpites sejam inevitáveis, o impacto que eles causam depende muito de como lidamos com eles. Afinal, como lidar com os palpites na maternidade sem deixar que eles nos desestabilizem?
Esse artigo é uma reflexão pessoal sobre as razões por trás desses conselhos insistentes e explora formas de manter a segurança nas nossas decisões enquanto mães. Porque, no fim das contas, ninguém conhece melhor o seu filho do que você.
Por que as pessoas dão tantos palpites na maternidade?
Palpites na maternidade são quase inevitáveis, mas eles não surgem do nada. Muitas vezes, são reflexo de intenções variadas, que vão desde o desejo sincero de ajudar até motivações mais egoístas ou inconscientes. Entender esses motivos pode ajudar a lidar melhor com os comentários, filtrando o que realmente é útil e deixando de lado aquilo que não acrescenta.
Intenção de ajudar ou participar
Na maioria das vezes, os palpites vêm de um lugar de carinho e desejo de estar presente. A gravidez e a chegada de um bebê são momentos transformadores, que mobilizam não apenas os pais, mas também familiares e amigos. Dar conselhos é uma forma de muitas pessoas se sentirem parte dessa fase especial.
Por exemplo, uma avó pode sugerir uma técnica de banho que usava ou um vizinho pode achar que sabe qual é o melhor carrinho para o bebê. Mesmo que os palpites nem sempre sejam úteis, lembrar que muitos vêm de um lugar de amor pode tornar mais fácil recebê-los com paciência.
Palpites motivados pelo ego
Nem todos os comentários, porém, têm a intenção genuína de ajudar. Há situações em que os palpites refletem mais sobre quem está falando do que sobre quem está ouvindo. Algumas pessoas compartilham suas experiências para reafirmar que fizeram “tudo certo” na maternidade delas.
Frases como “Você deveria fazer como eu fiz” geralmente refletem uma necessidade de validação, ignorando que cada bebê, mãe e família têm necessidades únicas.
O impacto dos julgamentos disfarçados de conselhos
Enquanto alguns palpites podem ser ignorados, outros têm um peso emocional significativo. Comentários como “Você acha que ela está crescendo bem assim?” ou “Será que ela não deveria estar indo para a escola em período integral?” podem trazer insegurança.
Para mães, especialmente as de primeira viagem, que já enfrentam tantas dúvidas, esses julgamentos mascarados como conselhos podem ser difíceis de lidar. É importante lembrar que cada criança tem seu tempo e que você está aprendendo e fazendo o melhor para seu filho.
Minha experiência com os palpites
Quando engravidei da Bianca, os palpites começaram a surgir de todos os lados. Como mãe de primeira viagem, senti esses comentários de forma muito intensa. Ouvi desde opiniões sobre como montar o enxoval até dicas sobre a escolha da primeira roupinha para a maternidade, e isso muitas vezes gerava mais dúvidas do que clareza.
Após o nascimento, os comentários se multiplicaram. Me perguntavam insistentemente sobre marcos do desenvolvimento, como “Ela já não deveria estar engatinhando ou andando?” ou se não era cedo para começar a introdução alimentar. No dia a dia, questionavam se ela estava “muito agasalhada” ou “com frio demais”. Uma vez, até comentaram que eu deveria “endireitá-la no carrinho para que não crescesse torta”.
Outros palpites, porém, tocavam diretamente nas decisões que eu e meu marido tomávamos, como a escolha de não dar sal ou açúcar antes do tempo indicado pela SBP. Era difícil ouvir “Ah, isso é exagero” ou “Um pouquinho não faz mal” quando estávamos convictos da nossa escolha.
A segurança vem com o tempo
Com o tempo, aprendi a confiar mais em mim mesma. Cada pequena conquista com a Bianca — desde organizar uma rotina que funcionava para nós até perceber que ela estava saudável e feliz — me dava mais força para lidar com os comentários.
Hoje, continuo lidando com palpites sobre temas como o tempo que ela passa na escola ou quanto ela bebe de água. Mas a experiência me ensinou a intervir quando necessário, especialmente para proteger as escolhas que considero fundamentais. Também entendi que cada mãe tem seu ritmo, e isso me ajuda a ser mais solidária com outras mães que passam por situações parecidas.
Por que os palpites incomodam tanto?
Os palpites na maternidade podem ser mais do que simples comentários. Muitas vezes, eles tocam em pontos sensíveis, atingindo diretamente nossas inseguranças ou reforçando sentimentos que já estavam à flor da pele. Não é apenas sobre o que foi dito, mas sobre como essas palavras ressoam em momentos em que estamos mais vulneráveis. Seja por mexer com dúvidas que insistimos em silenciar ou por despertar emoções latentes, esses comentários podem nos atingir de forma inesperada e profunda.
A ligação entre insegurança e incômodo
No início da maternidade, é comum nos sentirmos inseguras, principalmente porque estamos aprendendo algo completamente novo. Quando alguém faz um comentário como “Você acha mesmo que ela está crescendo bem?” ou “Já começou a introdução alimentar? Não está cedo?”, isso pode amplificar as dúvidas que já temos.
O efeito das emoções à flor da pele
Logo após o nascimento do bebê, as mudanças hormonais e o cansaço podem nos deixar ainda mais vulneráveis. Comentários que, em outra fase, passariam despercebidos, parecem muito maiores.
Frases como “Será que ela não está com frio?” ou “Ela chora porque está mal acostumada” podem nos atingir em momentos em que já estamos sobrecarregadas.
Reflexão para aliviar o peso dos comentários
Com o tempo, percebi que muitas vezes os palpites vêm de boas intenções, mesmo quando são mal colocados. Entender isso me ajudou a criar um filtro emocional, aceitando o que fazia sentido e deixando o restante para lá.
Refletir sobre as motivações dos outros — e, principalmente, lembrar que ninguém conhece minha filha melhor do que eu — tornou os comentários muito menos impactantes. Confiança é o maior escudo contra palpites indesejados.
Estratégias para lidar com palpites na maternidade
A maternidade vem com muitos desafios, e os palpites, solicitados ou não, parecem fazer parte do pacote. Mas isso não significa que precisamos aceitar ou nos deixar abalar por todos eles. Algumas estratégias podem nos ajudar a lidar com os comentários de forma saudável, fortalecendo nossa confiança como mães e preservando os relacionamentos importantes.
Entenda que o palpite fala mais sobre o outro do que sobre você
Muitas vezes, o que as pessoas dizem reflete suas próprias vivências, crenças ou até inseguranças, e não necessariamente um julgamento sobre as suas escolhas.
Por exemplo, quando alguém comenta: “Eu nunca deixava meu bebê dormir sozinho no berço”, pode estar expressando como lidava com suas próprias ansiedades, mais do que uma crítica direta. Reconhecer isso ajuda a reduzir o peso emocional dessas observações.
Filtre o que é útil e descarte o resto
Nem todos os palpites são irrelevantes. Alguns podem trazer ideias ou sugestões que realmente ajudam. Por isso, é importante desenvolver um filtro crítico.
- Pergunte a si mesma: “Essa opinião faz sentido para a minha realidade, meu bebê e minha rotina?”
Se a resposta for positiva, adapte-a ao seu contexto. Se não, agradeça educadamente e siga sem culpa.
Lembre-se: você não precisa justificar suas escolhas o tempo todo.
Fortaleça sua confiança e crie um escudo emocional
Confiança é fundamental na maternidade, e construir isso demanda tempo e autoconhecimento. Desenvolver um “escudo emocional” ajuda a reduzir o impacto dos palpites na sua autoestima.
Converse com outras mães que compartilhem visões semelhantes, pois dividir experiências com quem passa pelas mesmas situações pode ser reconfortante e esclarecedor. Além disso, lembre-se de que você conhece melhor as necessidades do seu filho e que suas escolhas são feitas com amor e dedicação.
Praticar a habilidade de filtrar os comentários também é importante. Reflita sobre o que faz sentido para você e descarte o restante sem culpa. Com o tempo, isso fortalece a segurança nas suas decisões, tornando mais fácil lidar com opiniões externas.
Respostas assertivas para diferentes situações
Respostas educadas e firmes são úteis para lidar com comentários sem criar atritos desnecessários. Aqui estão algumas opções:
- “Obrigada pela sugestão, vou pensar a respeito.”
- “Interessante, mas estamos seguindo outra abordagem.”
- “Essa é uma forma de fazer, mas preferimos outra que funciona melhor para nós.”
Se os palpites persistirem ou forem invasivos, adote uma postura mais direta, como:
- “Prefiro não discutir isso agora.”
A ideia é demonstrar que você está segura em suas decisões, evitando prolongar a conversa.
Palpites de pessoas próximas x comentários de desconhecidos
Lidando com familiares e amigos
Os palpites de pessoas próximas costumam ser os mais difíceis de administrar, pois envolvem laços afetivos. Muitas vezes, essas pessoas desejam ajudar, mas acabam causando desconforto por excesso de comparação ou insistência.
- Seja honesta, mas gentil: Explique que aprecia os conselhos, mas prefere seguir o que funciona para sua família. Algo como: “Entendo que isso funcionou para você, mas aqui estamos fazendo diferente e tem dado certo.”
- Estabeleça limites claros: Quando necessário, diga de forma delicada que prefere não discutir determinado assunto.
- Valorize o relacionamento: Enxergue o lado positivo do vínculo, mesmo que nem todos os palpites sejam úteis.
Lidando com comentários nas redes sociais
Nas redes sociais, palpites podem surgir de pessoas que nem conhecem você, e muitas vezes esses comentários são mais críticos por causa da distância e do anonimato.
- Evite justificar suas escolhas: Um simples “Obrigada pelo comentário” pode encerrar o assunto.
- Escolha o que compartilhar: Quanto menos detalhes da sua maternidade você expuser, menor será o espaço para julgamentos.
- Desconecte-se se necessário: Priorize sua saúde mental. Fazer uma pausa das redes sociais pode ser revigorante.
Lembre-se: comentários de estranhos não definem quem você é ou como você cria seu filho.
Conclusão: O palpite é inevitável, mas o impacto é escolha sua
Os palpites fazem parte da maternidade, mas cabe a você decidir o peso que eles terão na sua vida. Quando estamos seguras em nossas decisões, críticas e comentários externos perdem força. Lembre-se: ninguém conhece melhor seu filho do que você mesma.
Filtre com sabedoria
Nem todo palpite merece espaço na sua rotina, mas alguns podem trazer insights valiosos quando alinhados com a sua realidade. Por isso, é importante desenvolver a habilidade de avaliar cada comentário com calma e discernimento. Pergunte-se: Essa sugestão se adapta às necessidades do meu bebê, à nossa dinâmica familiar e aos valores que seguimos? Se a resposta for sim, vale a pena considerar.
O restante, porém, deve ser descartado sem culpa. Lembre-se de que cada família é única, e o que funciona para uma pode não fazer sentido para outra. Criar essa barreira mental é essencial para evitar sobrecarga emocional e manter o foco no que realmente importa: o bem-estar do seu filho e a harmonia da sua rotina.
Busque apoio profissional, se necessário
Se lidar com palpites tem sido um peso emocional difícil de carregar, não hesite em procurar ajuda de um psicólogo ou outro profissional especializado. Esses momentos de conversa podem ser fundamentais para:
- Fortalecer sua autoconfiança como mãe.
- Desenvolver ferramentas para lidar com críticas e julgamentos.
- Aprender a estabelecer limites saudáveis com quem está ao seu redor.
A maternidade já é desafiadora, e você não precisa passar por tudo sozinha. Cuidar da sua saúde mental é um gesto de amor consigo mesma e com sua família.
Lembre-se: a maternidade é única
Cada mãe, cada bebê e cada família têm suas próprias particularidades. Não existe um único caminho certo para criar filhos. Confie no instinto, na dedicação e no amor que você coloca em cada escolha.
Afinal, você é quem melhor conhece seu filho e sabe o que funciona para a sua família. ❤️
Aline Chamon é publicitária, mãe da Bianca e esposa do Gustavo. Criadora do blog SEVEN DAYS MOM, dedica-se a compartilhar as alegrias e desafios da maternidade real, trazendo reflexões e aprendizados do dia a dia. Apaixonada por registrar memórias, escreve cartas para sua filha desde seu nascimento e busca, por meio do blog, inspirar e acolher outras mães que vivem as aventuras e os dilemas da maternidade.